25 de novembro de 2013. O dia escolhido para partir. Como um ato prepotente de querer tomar o lugar do senhor tempo. Eis o nosso primeiro engano: não cogitar que dali pra frente seria comum experimentar os diferentes sabores do adeus. Do amargo ao doce. Portanto, não houve início. É tudo (um) meio. Mas sempre pode ser fim. Daí a sensação de que a estrada veio antes do mundo e para além dele. Sobrepondo limites geográficos. Uma coletânea de momentos vividos. Jamais esquecidos. Orgulho não temos, pois o combustível dessa caminhada é a gratidão.
O choro da despedida ganhou sentido. Tantos sorrisos haveria de ter um preço. A prova real da vida sendo feita em encontros. De almas, histórias e sonhos. De gente. Tudo de repente. No susto, no escuro. Na lama ou no luxo. Um tatear de rostos aos dedos da liberdade. Rótulos desmoronados. Total sincronismo entre o fechar dos olhos e o abrir do coração. Um oceano no qual já mergulhamos afogados. Onde a esperança está no outro. Em suas pequenas glórias ocultas. Em nossa complexidade humana tristemente dividida em defeitos e qualidades. O socorro chegando em forma de amizade.
Foram dias confusos. Estranhamos o lugar comum. Tornamos nosso o que não nos pertencia. A apropriação do tudo filtrando a alma. Ou seria um liquidificador de emoções? A certeza do nada como produto final. A dor alheia como punhal na veia. A transformação do odor em compreensão para o inexplicável. O medo dando vez à coragem. A fé livre de qualquer crença. Fomos condenados a sermos nós mesmos. Prisão perpétua num céu de possibilidades. Deus nos livre do inferno das verdades absolutas! A transformação da dúvida em uma única constatação. De que nada somos ou sabemos.
Quantas mãos estendidas em nossa direção… Para cima e para baixo. Muitas apertadas em sinal de gratidão. Algumas ignoradas. Momentos seguidos de abraços. Embaraços. Solidão. Quantas paisagens vistas por pequenas janelas. Miséria. Fome. Horas e horas de sono mescladas com um abrir de olhos constante em busca de soluções. Um mundo por dia. Um ciclo de esperança e desilusão. A lágrima sendo confundida com a brisa do grande lago. A pele sofrida chamando atenção. Mãos calejadas. Olhos perdidos. Nós todos sem rumo, sem direção.
Trezentos e sessenta e cinco dias fazendo de cada canto casa. Tentando transformar gelo em brasa. Vendo a distância o nascer de uma geração e a precoce partida de quem esperávamos reencontrar. Lá foram eles viver onde habita a verdadeira saudade: algum lugar longe do alcance da voz, dos olhos e das mãos. A morte comprovando a nossa incapacidade de amar. De causar no outro a boa sensação de ser único mesmo sendo igual. Ou de se perceber igual apesar das diferenças. De aliviar sofrimentos.
Nestes últimos doze meses caminhamos por desertos, contemplamos mares e vimos de perto maravilhas da natureza. Conhecemos um pouco mais deste pequeno grande mundo. Se a gente mudou muito? Eu passei a comer cebola crua, e ela já não se incomoda tanto com pimenta. Não sei, mas talvez tudo na vida seja realmente apenas uma questão de costume.
3 comentários
Parabéns ao casal! Que essa viagem não acabe nunca! rs
Gostaria de saber se vocês vão postar algo relacionado aos custos, estou juntando dinheiro para fazer uma volta ao mundo, gostaria muito de saber os custos de vocês! Grande abraço!
Oi, Victor! Vamos, sim… Deve ir ao ar ainda esta semana. Abração e boas viagens pra gente!
Super apaixonada pela viagem de vcs.
Sinto em cada linha dos textos que meu sonho e de meu marido tem como ser realizado.
Parabéns pela coragem que tiveram de desafiar o conhecer um pouco do nosso Mundo.