Minha avó já dizia: quando um não quer, dois não brigam. Sempre penso no velho clichê durante a nossa viagem – tanto para manter o clima com a patroa tranquilo, quanto para compreender melhor as guerras que até hoje assolam o mundo. Pouco tempo depois de chorarmos com a lembrança do 11 de Setembro, em Nova Iorque, perdemos as palavras frente às ruínas do epicentro da bomba atômica lançada pelos Estados Unidos sobre Hiroshima, primeira cidade do mundo a ser destruída desta maneira. Uma triste lembrança do fatídico dia 6 de agosto de 1945.
O velho edifício fica dentro do Peace Memorial Park, onde monumentos e museus relembram o episódio (que até o final daquele ano já havia feito 140 mil mortos em decorrência do bombardeio). Um deles é a Chama da Paz, acesa em 1964. Ela permanecerá queimando até que todas as bombas nucleares do mundo sejam destruídas, afastando totalmente a ameaça do holocausto nuclear da humanidade.
O Monumento das Crianças à Paz mostra uma menina com os braços abertos segurando um “tsuru”. A estátua é inspirada na história de Sadako Sasaki. Ela acreditava que seria curada ao fazer mil origamis, mas acabou morrendo antes disso devido à radiação. Já no Museu da Paz, fotos mostram como a cidade ficou após os bombardeios. No local também são exibidas imagens, roupas, objetos e até pedaços de pele das vítimas. É uma experiência muito forte, mas essencial para o sonho por dias melhores.
Ainda hoje é possível perceber a tristeza no rosto dos japoneses quanto o assunto é Hiroshima. Apesar disso, eles sempre fazem questão de frisar que não existe qualquer tipo de mágoa em relação aos EUA. Na verdade, quando o assunto é guerra, não há inocentes… Afinal, se desta vez o Japão foi vítima da ignorância humana, em outras ocasiões ele agiu com a mesma perversidade com a qual foi devastado pelos americanos. Mas a Terra do Sol Nascente parece ter aprendido a lição.
Países como Filipinas, Coreia do Sul e China (vista atualmente como uma ameaça pelos vizinhos asiáticos) já sentiram na pele a força bélica do Japão. Por isso, além de buscar o diálogo em sua relação internacional, o país é bastante pacífico, tendo uma das menores taxas de violência do mundo. Um bom exemplo é a pena de morte, prática quase não praticada apesar de ser permitida pela lei japonesa.
Mas Hiroshima não é só dor. A mais ou menos uma hora do Centro da cidade, a Ilha de Miyajima foi uma das coisas mais lindas que vimos no Japão. Chegando lá pela manhã, é possível caminhar até o O-torii Gate, do santuário de Itsukushima, considerado Patrimônio Mundial pela Unesco. Algumas horas depois, com a subida da maré, a base do chamado “Portal Flutuante” é tomado pela água. Não é à toa que a ilha é considerada sagrada pelos praticantes do xintoísmo. O lugar é realmente lindo!
Tanto nas ruas da ilha quanto no Momijidani Park é possível ver veados soltos, andando tranquilamente à espera das comidas oferecidas pelos turistas (embora a recomendação seja não alimentar os animais). Também é possível subir até o pico do Monte Misen. Há duas opções para isso: teleférico ou caminhada. Nós, é claro, optamos pela primeira. 😉
Como ficamos hospedados muito próximos à estação das barcas, no Backpackers Miyajima, parceiro da nossa viagem, de onde era possível ver de longe o O-torii Gate iluminado à noite. Uma visão que, apesar de espetacular, não é capaz de apagar do coração dos japoneses tamanha dor.
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